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terça-feira, 24 de agosto de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Escrevendo sobre o ato de escrever textos acadêmicos





"Na palavra falada temos que ser, em absoluto, do nosso
tempo e lugar; não podemos falar como Vieira, pois nos
arriscamos ou ao ridículo ou à incompreensão. Não
podemos pensar como Descartes, pois nos arriscamos ao
tédio alheio. A palavra escrita, ao contrário, não é para
quem a ouve, busca quem a ouça; escolhe quem a entenda,
e não se subordina a quem a escolhe. Na palavra escrita
tem tudo que estar explicado, pois o leitor nos não pode
interromper com o pedido de que nos expliquemos melhor."
(Fernando Pessoa. O livro do desassossego)


"Não fomos construídos para ler. Na verdade, a leitura é uma aventura."
(Michael Merzenich, neurocientista)




Existe atualmente uma crise da escrita e leitura tradicional. Uma linguagem nova urdida no imediatismo dos meios digitais está querendo fechar um capitulo na história das narrativas impressas em formato papel. Desde 1990 as tecnologias da informação digital estão definitivamente inseridas no contexto do pensamento e dos atos para gerar e receber a informação. Fatos e ideias tinham um percurso formal e bem definido dentro de um mundo onde a textualidade era pautada pela escrita em papel. Existe, hoje, uma diferente configuração para plublicitar fatos e ideias.

O imaginário do receptor ampliado por novas visualizações na aventura hipertextual explodiu o formato dos meios tradicionais. Palavras e enunciados tem na condição digital um caminho de significantes liberados. Acredito que iniciamos um novo padrão da escrita e da leitura nestes tempos digitais. As pessoas, ainda escrevem com todo o maneirismo da escrita para o papel. Mas na tela, e só se pode ler um hipertexto na tela, existe um novo olhar para um novo documento que antes de tudo deve ser leve e agradável a esta apreciação diferenciada de uma leitura onde o imaginário se liberta no link. Uma escrita que não quer ser impressa.

Um artigo científico deve ser escrito com clareza, precisão e, sobretudo, quando todos vão ler na web com uma visualização adequada para esta leitura online. O leitor deve ficar interessado na narrativa para se manter conectado e ser capaz de entender o seu conteúdo facilmente. Uma escritura deve apresentar adequadamente os objetivos, o porquê e como foi escrito – a sua metodologia - os resultados encontrados e suas aplicações.

Artigos científicos e técnicos são recusados para publicação devido a qualidade na sua apresentação. Possuem frequentemente um excesso de informação irrelevante, ausência de conclusões precisas, tabelas e gráficos mal arranjados e em demasia e deficiência na apresentação dos resultados.

O escrever acadêmico é rico em citações. Mas deve ser lembrado que em cada citação o autor passa a autoria do seu texto para a voz de outrem. Se uma narrativa possui mais da metade de suas linhas como citações, incluindo alguns quadro e tabelas, a autoria é difusa e em rede. Não há mais um autor definido.

Pela mesma razão não se pode ter um texto de 20 páginas com muitas citações, links, quadros e tabelas de outra autoria e ao concluir tudo isso o seu autor o faz em apenas uma lauda. Como diria Pessoa “arriscamos ou ao ridículo ou à incompreensão”.

Além de manter uma boa organização na apresentação dos objetivos, fatos e conclusões, há que cuidar da ortografia e a gramática para que o leitor não tenha problemas para entender o que está dito. Ele não pode perguntar ao texto uma nova explicação.

Existem várias formas para se publicar um artigo técnico ou uma publicação científica, como: divulgação científica, revisão temática, descrição de aplicação de um modelo, um artigo de opinião do autor. Mas os artigos preferidos por editores e leitores são aqueles onde, em sua maior parte, existe um questionamento original e com nítida preponderância de enunciados reveladores de uma reflexão própria do um autor.

O que faz de um indivíduo um autor individualizado é o fato de podermos demarcar através de seu nome e da família de seus textos o pertencimento a uma área temática. Textos se conectam através de uma linhagem de vínculos semânticos determinados por aproximações e afinidades ao longo da institucionalização de um campo em uma cultura. O que faz de um indivíduo um autor é o fato de através de sua assinatura reconhecermos os textos que lhes são atribuídos. Se um conteúdo foi desenvolvido por uma rede ou um grupo de pesquisa esta autoria perde sua individualidade e é responsabilidade da rede ou grupo e não mais de pessoas únicas.

É preciso cuidar para não tipificar ou especificar seu artigo como uma simples descrição, sem uma reflexão, análise e avaliação de literatura; evitar textos cujo formato mostrem uma estrutura típica de uma “adaptação” de um trabalho de final de curso em novo aproveitamento. Os enunciados com autoria múltipla devem poder indicar a contribuição de cada um dos autores para o artigo de maneira clara e explicita no conteúdo. É preciso cuidar, ainda com narrativas excessivamente específicas e descritivas de um serviço ou produto ou que sejam fortemente baseados em um determinado contexto, um local geográfico ou uma empresa e seu produto.

Faça um título curto, que chame a atenção e reflita o tema principal do artigo. Não deve ser muito longo; registre o seu nome e a sua filiação institucional de forma uniforme e sistemática como usa em todas as suas publicações, para que seus artigos possam ser reconhecidos e citados de forma correta.

As pessoas se baseiam no Resumo ou no Abstract para decidirem ler ou não o artigo. Os indexadores eletrônicos da web vão varrer o seu resumo e o “abstract” para formar sua base. Assim, sintetize de maneira precisa os tópicos principais do artigo e as conclusões obtidas. Não utilize mais que 250 palavras nisso. Limite o número de tópicos inseridos para evitar confusão na identificação do conteúdo. Não inclua referências, figuras, citações, siglas ou equações matemáticas no resumo.

O Abstract é a versão do resumo em inglês. Por uma questão de coerência, ele deve possuir tamanho e significado compatíveis com o resumo. A versão em inglês não necessitará ser uma tradução literal do resumo, mas sim uma tradução adaptada à outra língua. Use frases de até 2 linhas no máximo. O leitor na língua inglesa não consegue perceber o significado em longas frases, entre vírgulas e com orações subordinadas e/ou coordenadas.

Por vezes, editores solicitam a inclusão de um conjunto de palavras-chave que caracterizem o seu artigo. Estas palavras serão usadas posteriormente para permitir, também, que o artigo seja encontrado por sistemas eletrônicos de busca. Por isso, você deve escolher palavras-chave que identifiquem os significados do texto. Um bom critério é selecionar as palavras que você usaria para procurar na web um artigo semelhante ao seu.

A introdução é uma síntese geral do conteúdo do artigo sem entrar em muitos detalhes. Especifique a relevância da publicação: explique como o trabalho contribui para ampliar o conhecimento em uma determinada área e se ele apresenta novos métodos ou modelos para resolver um problema; se ele é um trabalho de opinião do autor ou de um grupo de pesquisa. Apresente uma revisão da literatura com escritas básicas sobre o assunto, mas em sua maioria as publicadas nos últimos 5 anos e que sejam específica ao tópico.


Corpo do artigo:
Determine o problema estudado, explique a terminologia básica, e estabeleça claramente os objetivos e as hipóteses. Note que artigos são frequentemente rejeitados para publicação porque os autores apresentam os objetivos pouco claros ou de realização impossível.

Apresente as formulações teóricas. Informe a metodologia e todo instrumental e os métodos de trabalho de forma que os leitores sejam capazes de entender como o estudo foi realizado. Indique os procedimentos de uma forma coerente. Dê crédito ao trabalho de outras pessoas: não invente conceitos se não tiver uma base teórica que os suporte e forneça detalhes e definições dos conceitos discutidos ou indique a fonte que os explique.

Um problema comum em artigos técnicos é o uso inapropriado de tabelas e figuras que podem confundir os leitores. As falhas principais seriam: a falta de análises das estatísticas tabeladas, a abundância de percentuais e numerais no texto, falta de nitidez do escrito dentro de figuras, tabelas e gráficos.

Tabelas devem ser incluídas quando se deseja apresentar um número pequeno de dados e se recheadas de texto inibem a leitura. Lembrar que a maioria dos artigos vai ser disponibilizada na web e necessita ter uma boa visualização do conteúdo. Evite um conteúdo recheado indicações em caixa alta, negritos, e sublinhados. Nunca apresente uma sigla substituindo o extenso e não use frases de mais de 50 palavras. A seção Resultados deve apresentar as reflexões sobre as evidências de seu estudo. Se não puder escrever com facilidade sobre a importância de suas evidências o artigo não merece ser escrito. Conclusões e resultados devem ter pelo menos 5 laudas

Você pode iniciar a sua conclusão mostrando o que é novo e relevante em seu texto. A conclusão deve ser analítica, interpretativa e incluir argumentos explicativos. Deve ser capaz de fornecer um dialogo conceitual lógico e coerente dos resultados apresentados e suas possíveis aplicações. Forneça informações completas sobre as referências utilizadas. Um artigo mesmo com a forma de um ensaio de reflexão do autor, não deve conter menos que 50 referências. Insira como anexo as informações que não são precisam ser visualizadas no texto principal como: questionários, entrevistas, descrição do software utilizado, relação bruta de dados.


Roteiro para checar o texto antes de enviar para publicar:

1 Título: reflete o conteúdo, as palavras utilizadas são apropriadas.

2 Precisão do texto: as informações estão claras sem excessos de diagramas; os parágrafos estão adequados para leitura.

3 Estilo: o conteúdo está correto e de visualização adequada para a web?

4 Apresentações dos dados: tratamento das figuras e tabelas esta adequado; há algo que deveria ir para o anexo.

5 Justificativa: foram esquecidos artigos históricos ou clássicos na revisão; Foi obedecida uma cronologia;
como foi abordado o arcabouço teórico adotado e como este arcabouço está inserido no campo do artigo;

6 Está explicitado: o tipo de metodologia utilizada; os instrumentais e os métodos usados; o local de realização da pesquisa; ( entidades envolvidas); os critérios de inclusão e exclusão de dados; as variáveis estudadas e sua mensuração?

7 No conteúdo : as principais perguntas foram respondidas; os erros ortográficos e de concordância são só acidentais? O estilo de redação é bonito, direto, claro e objetivo? A sequência de raciocínio é lógica e faz sentido? A visualização é de boa qualidade tanto para a mídia impressa quanto digital; o mesmo estilo foi utilizado em todo o texto? Há excesso de formatação no texto ou muitas figuras, tabelas, etc.; os anexos são relevantes.

8 Resultados: os resultados encontrados são coerentes; foram apresentados de forma assimiláveis; foram enfatizados os resultados inovadores; foram discutidas as limitações dos resultados; a a apresentação está adequada.

9 Conclusões: estão apropriadas e corretas? ( em harmonia com os objetivos? Com a metodologia e os métodos? Com os resultados esperados?); as descrições das conclusões têm um espaço coerente para tratamento das reflexões finais do autor? Foram enfatizados os principais resultados encontrados; as questões colocadas no texto foram respondidas nesta finalização.


Finalizando é importante ressaltar que a velocidade da escrita, da leitura e sua assimilação mudaram, assim como mudou a quantidade de informação à qual estamos expostos. A intenção destas notas é evitar o estresse cognitivo do leitor, apresentando a informação de maneira visualmente destinada para a percepção amigável. Sempre é conveniente lembrar que: “toda leitura é uma aventura” e é o autor que registra o script dessa odisséia.

Aldo de Albuquerque Barreto
Fonte: Avoantes perdidos