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quarta-feira, 7 de julho de 2010

A LEITURA II – Como escolher o que ler

Capítulo retirado do livro "A vida intelectual", de A.D. Sertillanges.
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CAPITULO VII - A preparação do trabalho

A. – A LEITURA II – Como escolher o que ler

Nestas observações está incluído o principio de seleção. ‘Muito discernimento é preciso, escreve Nicole, para escolher o que há-de nutrir o espírito e servir de semente dos pensamentos. O que hoje lemos com indiferença despertará mais tarde e apresentar-nos-á, sem que nisso reparemos, pensamentos que serão causa de salvação ou de ruína. Deus sugere os bons pensamentos para nos salvar; o demónio acorda os maus pensamentos em nós latentes’(1).

Portanto, é urgente selecionar: selecionar os livros e selecionar nos livros. Selecionar os livros. Não acreditar no reclamo interesseiro nem no chamariz dos títulos. Ter conselheiros dedicados e sabedores. Dessedentar-se só nas fontes. Freqüentar apenas o escol dos pensadores. O que nem sempre é possível em matéria de relações pessoais, é fácil, e convém aproveitar, em matéria de leituras. Admirar de alma e coração o que merece ser admirado, sem contudo prodigar a admiração. Desdenhar das obras mal feitas, que provavelmente são mal pensadas.

Ler só obras de primeira mão, onde brilham as ideias mestras. Ora estas são pouco numerosas. Os livros repetem-se, diluem-se, ou então contradizem-se, o que é outra maneira de se repetirem. Olhando de perto, verificamos serem raras as descobertas do pensamento; o fundo antigo, ou antes o fundo permanente é o melhor; é mister que nele nos apoiemos para comungar verdadeiramente com a inteligência do homem, longe das pequenas individualidades balbuciantes ou bulhentas. É uma comerciante de modas (M.elle Bertin) quem diz: ”só é novo aquilo que se esqueceu”.

A maior parte dos escritores são apenas editores; é já alguma coisa. Voltemos, porém, ao assunto. Haveis de ler, sem prevenção, o que se escreve de bem; lereis os autores modernos, e tanto mais quanto precisardes de informações, de noções positivas em evolução ou em crescimento; quereis ser do vosso tempo; não deveis ser um ’tipo arcaico’. Contudo, não tenhais a superstição da novidade; gostai dos livros eternos, que encerram as verdades eternas.

Em seguida, deveis selecionar nos livros. Nem tudo é igual. Nem por isso haveis de assumir atitude de juiz; sede antes, para com o autor, um irmão, na verdade, amigo, e amigo inferior, visto que, pelo menos debaixo de certos aspectos, o tomais por guia. Sendo o livro um irmão mais velho, é mister honrá-lo, abri-lo sem orgulho, escutá-lo sem prevenção, suportar-lhe os defeitos, buscar o grão da palha. Mas sois homem livre; permaneceis responsável: reservai-vos o bastante para guardar a alma e, se necessário for, para a defender.

”Os livros são obras dos homens, diz ainda Nicole, e a corrupção do homem imiscui-se na maior parte das suas ações, e como ela consiste na ignorância e na concupiscência, quase todos os livros se ressentem destes dois defeitos (1)”. Daí a necessidade de filtrar para depurar, muitas vezes, durante a leitura. Para isso, confiar em Deus e no melhor de si, na parte de si que é filha de Deus e na qual um instinto de verdade, um amor do bem servirá de resguardo.

Além disso, lembrai-vos que até certo ponto um livro vale o que vós valeis, e o que o fizerdes valer. Leibniz utilizava tudo; S. Tomás extraiu dos hereges e dos paganizantes do seu tempo grande número de ideias, sem sofrer de nenhuma. O homem inteligente encontra em toda a parte inteligência, o louco projeta sobre todas as paredes a sombra da sua fronte estreita e inerte. Escolhei o melhor que puderdes; mas procurai que tudo seja bom, largo, aberto ao bem, prudente e progressivo.

( 1) Nicole, essais de morale contenus en divers traité, t.II, pág. 244, Paris, 1733.

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