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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A informação não se importa em ser caótica, defende professor da UFPE

Davi Lira
Especial para o JC Online

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Para o professor Diego Salcedo, o caos da internet abre possibilidades transformadoras (Foto: Divulgação/Duda Rocha)

Os dados espantam. A indústria de domínios encerrou 2009 com uma base de mais de 192 milhões de nomes de domínios registrados na internet, aponta a fornecedora de serviços de infraesturuta da web, a empresa multinacional VeriSign, em relatório divulgado no primeiro semestre de 2010. Somente nos países latino-americanos, o ano de 2009 encerrou com mais de 2 milhões de registros de nomes de domínios ".com" e ".net". A Internet está aí, aberta, disponível e com imensas possibilidades. Mas, pela quantidade de dados, não faltam especialistas afirmando que a próxima geração, a web 3.0, vai ter que se preocupar com o gerenciamento da informação, que deve ser melhor entendido e trabalhado.

"O caos de informação na web, na minha visão, oferece a oportunidade de conflitos e, por isso, de transformações. Não, necessariamente, de destruição do conhecimento ou desestruturação desses conteúdos eletrônicos", afirma o especialista em Comunicação Diego Salcedo. O JC Online conversou, nessa quinta (2), mais a fundo com o professor do Departamento de Ciência da Informação da UFPE. Confira abaixo, a entrevista na íntegra.


JC Online - Com o hipertexto cada vez mais presente, é possível afirmamos que a escrita passa por um processo de reinvenção?

Diego Salcedo - Não sei até que ponto podemos dizer que a escrita passa por uma reinvenção. Talvez seja mais adequado entender que, com o advento do hipertexto, eletronicamente concebido, existe uma nova etapa emergente da História da Escrita do Pensamento. Prefiro pensar assim, para tirar o foco de uma visão tecnocientífica sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), em virtude de um leitura de mundo centrada em processos históricos, fruto de condições socioculturais articuladas às necessidades comunicacionais ou comunicativas, de nós, seres humanos. Mais relevante do que focar no hipertexto, seria discutir leitura e escrita.

JC Online - Para Lévy, grande parte da sociedade desconhece toda a grandeza dessa revolução das Telecomunicações. A Internet, por exemplo, é utilizada pela maior parte das pessoas somente como um instrumento de transmissão e não como uma metodologia de construção de conhecimentos. Você concorda?

Diego Salcedo - Estou de acordo. Essa nova modalidade de acesso à informação, na qual o hipertexto oferece vantagens antes inexistentes, sugere novas modalidades e formas de interação entre comunicação e conhecimento. No entanto, não, necessariamente, significa que as pessoas que acessam esses conteúdos produzam conhecimento. A informação independe do conhecimento. Já o conhecimento, para existir enquanto tal, precisa da informação. Além disso, o sujeito precisa não apenas acessar ou (re)transmitir, distribuir, mas se apropriar e assimilar a informação. Não estamos fazendo nada muito inovador: pensamos, escrevemos e publicamos => produzimos, distribuimos - transmissão - e consumimos. Isso não surgiu com a Internet. Mas Levy, com relação a esses processos, vê na rede de computadores características que poderiam ser enaltecidas e melhor utilizadas.

JC Online - Lévy aponta que hoje a Internet é um verdadeiro caos informacional, e que é preciso gerenciar melhor os dados disponibilizados na rede. Compartilha desse entendimento?

Diego Salcedo - Concordo que é um caos informacional. Mas não me preocupo com esse tipo de caos. A informação, mesmo enquadrada num ambiente de bits e bytes, não se importa em ser caótica. No entanto, se esse caos coloca em xeque a estrutura computacional contemporânea, aí teríamos que repensar sobre esse assunto. De fato, a quantidade e multiplicidade de informações na Internet é caótica, no sentido organizacional, ou seja, existem, sim, lacunas no que poderíamos chamar de "gestão de informação web". Mas não há nada que não possa ser resolvido no mundo humano, se por ele criado.

JC Online - Então haveria um lado positivo nesse caos cibernético?

Diego Salcedo - Pessoas com uma formação continuada em campos como design, ciências da computação, ciências da informação e comunicação, filosofia etc, podem com o tempo e muito trabalho desenvolver uma gestão eficiente e eficaz desses conteúdos web. Outro ponto é pensarmos essa realidade, esse fato sobre outra visão: não como problema, mas como uma forma de relacionamento com a informação eletrônica que possibilita ramificações imprevisíveis, caminhos inesperados. No mínimo me parece ser interessante e inovador vermos um lado positivo nessa contaminação de informações eletrônicas caóticas. A Internet não, necessariamente, precisa de uma gestão informacional como, até hoje, ocorre com as bibliotecas e arquivos mundo afora.

JC Online - A busca por essa melhoria organizacional passa pela imposição de regras rígidas?

Diego Salcedo - O caos de informação na web, na minha visão, oferece a oportunidade de conflitos e, por isso, de transformações. Não, necessariamente, de destruição do conhecimento ou desestruturação desses conteúdos eletrônicos. Informação na Internet é, apenas, um tipo de informação. Organizar a informação eletrônica precisa de critérios que, por sua natureza, estabelecem regras. Não vejo, ainda, neste momento histórico da humanidade, como propor a organização de informação eletrônica sem a proposição de regras. A própria criação da Internet é fruto de regras firmes, de relações de poder. O seu conteúdo é, necessariamente, resultado disso. A pessoa que escreve um texto num blog se ilude se acredita que aquela informação não está enquadrada em regras. Nem mesmo o conteúdo foge delas. A linguagem e a comunicação humana são constituídas por regras, em sua própria natureza epistemológica. Isso não mudou com a Internet.

Fonte: JC ONLINE

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